Girafas ‘clandestinas’ desafiam Epal e mantêm negócio
Água. Empresa pública responsável pela gestão e distribuição do líquido na capital não tem controlo das girafas privadas em funcionamento depois assumir a gestão de 12 em 2020.
Passados dois anos desde a data prevista para o total controlo pela EPAL da gestão dos pontos de venda de água (girafas) em Luanda, privados não arredam o pé no negócio de abastecimento de cisternas.
Em finais de 2019, a Empresa Pública de Águas de Luanda (Epal) apontava para a existência de 12 pontos de abastecimento. E garantiu que todos os pontos seriam retirados da gestão dos privados em 2020, depois de cessarem os contratos de gestão de nove anos.
O Valor Economico constatou, entretanto, pelo menos, cinco girafas privadas a funcionar e que estão sob gestão de cidadãos chineses. Duas estão no canal do Kikuxi, uma no Calumbo, em Viana, e outras duas no Rio Kifangondo, em Cacuaco. Cada uma chega a atender, diariamente, perto de 100 camiões de entre 10 mil e 45 mil litros.
Os preços variam entre 4 mil e 14 mil kwanzas nas girafas privadas, enquanto a Epal vende o metro cúbico a 294 kwanzas, conforme o decreto presidencial 30/18 que estabelece os preços da água por metro cúbico. Já os camionistas revendem as cisternas com margens de lucros muito altas, chegando a triplicar ou quadruplicar os preços, sem qualquer regulação.
A Epal afirma, no entanto, desconhecer a existência de girafas privadas ou geridas por chineses, assegurando que as 12 girafas estão sob seu controlo e a serem geridas por trabalhadores da empresa. “Se existir uma ou outra, acredito serem girafas clandestinas”, declara Vladimir Bernardo, porta-voz da empresa, ao mesmo tempo que reconhece a “fraca capacidade” de distribuição de água pela empresa pública, situação justificada pelas restrições no abastecimento, face à desproporção entre a procura e a capacidade das infra-estruturas disponíveis. “Temos que assumir que estamos com um défice grande de produção de água”, insiste.
Ainda sobre os pontos geridos pro privados, Vladimir Bernardo entende que se deve fazer um trabalho conjunto com a Polícia, de modo a averiguar-se a legalidade destas girafas. Explica que há alguns clientes que têm autorização de retirar água bruta do Kikuxi para as actividades industriais, no caso a Refriango e outras empresas aí instaladas. “A concessionaria de água aqui é a Epal, é um risco ir buscar nos chineses e depois dizer que foi buscar na Epal, se ocorrer um problema é responsabilidade da empresa de distribuição de água”, lembra.
ÁGUA PARA TODOS AINDA NÃO CHEGOU A TODOS
O Programa Água para Todos foi criado em Julho de 2007, através da Resolução do Conselho de Ministros nº 58/07, com o objectivo de assegurar o abastecimento de água a 80% da população rural de Angola. O programa acabou também reforçado no manifesto eleitoral do MPLA nas campanhas eleitorais de 2008 e 2012, em que prometeu “assegurar níveis de cobertura de até 100% nas zonas urbanas e de até 80% nas zonas rurais”, além de “assegurar a monitorização efectiva da qualidade da água para garantir um alto padrão no abastecimento voltado para o consumo humano”.
Passado mais de 15 anos, o abastecimento de água continua a ser um problema em toda extensão do país e na capital, onde os municípios de Viana, Cazenga e Kilamba Kiaxi são os mais afectados. Mas até condomínios de luxo no Talatona e em novas urbanizações são forçados a recorrer às cisternas, por causa das restrições no abastecimento. A Epal justifica haver mau funcionamento na estação de tratamento de água do Luanda-Sul que tem alguns grupos de bombagens avariados, enquanto, no Nova Vida, as restrições são causadas pelas constantes vandalizações nos contadores.
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